quinta-feira, 11 de junho de 2015

A Década da Água

As inundações em Morigaon, na Índia, deixaram debaixo de água cerca de 45 estradas, em outubro de 2014. Foto: Priyanka Borpujari/IPS
As inundações em Morigaon, na Índia, deixaram debaixo de água cerca de 45 estradas, em outubro de 2014. Foto: Priyanka Borpujari/IPS

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 11/6/2015 – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, deu seu apoio a uma Década Internacional da Água para o Desenvolvimento Sustentável, enquanto no fórum mundial se apressa a negociação dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem ser aprovados pelos governos do planeta em uma cúpula no mês de setembro próximo.
Esta Década “complementaria e apoiaria o êxito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos para a água”, afirmou Ban Ki-moon. O presidente do Tajiquistão, Emomali Rahmon, apresentou a proposta da Década Internacional no dia 9, na conferência internacional Água para a Vida, em Dushanbe, capital de seu país. A mesma deverá ser aprovada pela Assembleia Geral, onde estão representados os 193 Estados membros das Nações Unidas.
O Tajiquistão, que tomou a dianteira em destacar a importância da água como fonte de vida, também patrocinou a Década Internacional da Água pela Vida (2005-2015), “para conscientizar e galvanizar a ação”, à qual sucederia a nova década proposta.
Ban afirmou aos delegados que a água ocupa um lugar nos ODS que transcende o acesso e considera outras questões fundamentais, como gestão integrada dos recursos hídricos, eficiência do uso, qualidade da água, cooperação transfronteiriça, ecossistemas hídricos e desastres derivados da água. “A água, como outras áreas da agenda de desenvolvimento pós-2015, está estreitamente interligada com outros desafios”, afirmou o secretário-geral.
“Ficamos contentes pelo fato de Ban ter destacado o direito humano à água e ao saneamento, e a enorme necessidade que ainda existe desses serviços essenciais entre as populações mais pobres e marginalizadas do mundo”, destacou à IPS John Garrett, analista de políticas de financiamento para o desenvolvimento da organização WaterAid, com sede em Londres.
Os ODS representam uma oportunidade única em uma geração para que chegue a todo o mundo, em todas as partes, água limpa, banheiros dignos e uma forma de as pessoas se manterem limpas e também seu entorno, afirmou. “A nova década para a ação sobre a Água para o Desenvolvimento Sustentável continuará mantendo a muito necessária atenção sobre os enormes desafios futuros”, acrescentou.
Porém, essa ação também deve levar em conta o saneamento e a higiene, já que sem eles a água potável não é nem factível nem sustentável, e tampouco o são os benefícios para a saúde e para o progresso econômico, ressaltou Garrett. Com o correr do tempo, os temas relacionados com a água se mantêm na agenda socioeconômica da ONU, como em 2013, que foi o Ano Internacional de Cooperação pela Água, e o Dia Mundial da Água, todo 22 de março, e o Dia Mundial do Banheiro, todo 19 de novembro.
Ban afirmou que o mundo alcançou cinco anos antes do previsto a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativa à redução pela metade, até 2015, da proporção de pessoas sem acesso sustentável a água. No curso de uma geração, 2,3 bilhões de pessoas, ou um terço da humanidade, passaram a ter acesso a uma fonte melhorada de água potável. A Assembleia Geral da ONU declarou o acesso a água potável e saneamento um direito humano, lembrou o secretário-geral.
Torgny Holmgren, diretor-executivo do Instituto Internacional da Água de Estocolmo, disse à IPS que sua organização recebe com satisfação o forte apoio de Ban à água como um ingrediente essencial nos esforços pelo desenvolvimento sustentável. “Um ODS dedicado expressamente ao caráter multifacetário da água, como problema social, econômico, ambiental, bem como à principal causa dos desastres de nosso planeta, é um passo indispensável, mas de modo algum suficiente, para o mundo que queremos”, ressaltou.
Portanto, é especialmente inspirador ver o incentivo que Ban deu a um processo que transcende os ODS, “que permite e requer a participação de todos os setores e atores, públicos e privados, pessoas e organizações, para decidir coletivamente um passo gigante para um mundo com sabedoria em matéria de água”, afirmou Holmgren.
Garret pontuou que o progresso na próxima década será fundamental e que apoia “os esforços para manter essas questões no centro das atenções”. Os ODM conseguiram reduzir pela metade o número de pessoas sem água melhorada no mundo, mas deixaram muitos dos mais necessitados sem ela. O saneamento é uma das metas mais distantes. “Devemos concentrar os esforços na próxima década para garantir que ninguém fique para trás”, acrescentou.
Ban destacou que nesse ponto também se avançou na década, já que mais de 1,9 bilhão de pessoas conseguiram acesso a melhores serviços de saneamento. “Essa é uma boa notícia. Mas também sabemos que ainda hoje, no século 21, cerca de 2,5 bilhões de pessoas carecem desse acesso”, enquanto um bilhão ainda defeca ao ar livre, apontou.
Segundo o secretário-geral, hoje em dia, cerca de mil menores de cinco anos morrem diariamente devido à combinação de falta de água e deficiência em saneamento e higiene. Dentro de dez anos, 1,8 bilhão de pessoas viverão em zonas com escassez absoluta de água, e é possível que duas em cada três pessoas no mundo sofram condições de estresse hídrico, ressaltou. “Não é de estranhar que muitos especialistas mundiais tenham qualificado a ‘crise da água’ como um dos maiores riscos mundiais que enfrentamos”, enfatizou Ban. Envolverde/IPS
Postado em: Inter Press Service

terça-feira, 9 de junho de 2015

Qualidade de rios que abastecem interior de SP piorou em 2014

postado em 09/06/2015 15:49

Sorocaba, 09 - Os rios mais utilizados para abastecimento público no Estado de São Paulo registraram queda no padrão da água em 2014, segundo o índice de qualidade da água medido pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A maioria teve períodos em que a qualidade atingiu o nível péssimo, entre eles os rios das bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que formam o Sistema Cantareira e abastecem as regiões de Campinas e Piracicaba. De acordo com a Cetesb, a seca severa de 2014 contribuiu para piorar a qualidade dos rios.

Dos 315 pontos de medição nos principais rios, 90 apresentaram em 2014 a pior qualidade dos últimos seis anos, sendo que 50% destes foram classificados nas categorias péssima e ruim. As categorias ótima, boa e regular contabilizaram 79% em 2014, o que representou uma redução de 5% nestas categorias em relação a 2013. O porcentual de rios com qualidade péssima subiu de 6% para 9% e de qualidade ruim foi de 10% para 12%. Do total de pontos monitorados, 82% apresentaram piora no índice.

Destes, a maioria situa-se nas bacias do PCJ. O Rio Piracicaba, por exemplo, um dos mais conhecidos do interior e que abastece Americana e Piracicaba, passou de ruim para péssimo. Bastante influenciado pela escassez de chuva, o rio teve piora expressiva na qualidade de suas águas, principalmente entre Limeira e Piracicaba, onde o índice chegou a péssimo em função da elevada concentração de esgotos. Adiante, em Santa Maria da Serra, a água se manteve ruim.

O Rio Atibaia, que abastece Campinas e outras quatro cidades da região, apresentou piora em todos os pontos de medição. O pior trecho, entre Paulínia e Americana, por receber esgoto e efluentes industriais, teve índice entre ruim e péssimo. O Jaguari, que abastece Limeira, Hortolândia e outras quatro cidades, também apresentou queda de qualidade por causa da escassez de chuvas - em Jaguariúna, o índice caiu de bom para regular.

Os índices do Capivari, que complementa o abastecimento de Campinas, oscilaram entre ruim e péssimo, com tendência para piora. O Camanducaia, fornecedor de água para Amparo, baixou de bom para regular. O Rio Jundiaí, que passou a abastecer Indaiatuba, teve aumento na concentração de poluentes, principalmente próximo da foz, em Salto.

Rios de bacias vizinhas também pioraram. O Mogi Guaçu, que abastece Pirassununga, regrediu de regular para ruim, principalmente em razão da piora na qualidade do Mogi Mirim, seu principal formador. O Rio Piraí, que abastece Indaiatuba, Salto e Cabreúva, também passou a ter qualidade ruim. O Ribeirão Ferraz, que abastece parte de Sorocaba, oscilou de bom para regular.

Para a Cetesb, a baixa vazão resultante da falta de chuvas contribuiu para agravar as condições dos rios. Este ano, houve melhora no regime de chuvas, mas os principais rios, como o Piracicaba e o Mogi Guaçu, entram no período de estiagem com vazões abaixo da média histórica. "Em 2015 tivemos chuvas 9% acima da média, mas, considerando a estiagem do ano passado, seriam necessárias chuvas 25% acima da média", avaliou o pesquisador Fábio Sussel, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado em Pirassununga.

Algumas iniciativas tentam reverter o quadro de degradação dos rios. Em Cordeirópolis, um projeto lançado no início deste mês prevê o plantio de 127 mil árvores para recuperar nascentes do Ribeirão do Tatu, afluente do Piracicaba. Um estudo mostrou que a área tem apenas 14% da mata natural. Em Nova Odessa, uma estação inaugurada no último dia 3 vai garantir o tratamento de 100% do esgoto despejado no Ribeirão do Quilombo, também afluente do Piracicaba